Ficar antenado nas novidades do mercado e saber lidar com todas as novas tecnologias é uma obrigação dos reparadores independentes, pois nunca se sabe que tipo de carro vai entrar na oficina. Mas, ao mesmo tempo, é preciso manter registro dos casos antigos, dos ‘pepinos’ de décadas atrás, pois ainda existem muitos veículos velhinhos rodando pelas nossas ruas, e que precisam de manutenção tanto ou mais do que os modelos mais atuais.
Este mês surgiu um caso assim aqui na oficina. Um Chevrolet Astra 1995, com 140.000 km, daqueles importados, anterior ao modelo que depois foi produzido no País até ser substituído pelo Vectra GT, e mais recentemente pelo Cruze Sport.
O carro estava impecável, muito bem conservado, somente com marcas de uso, afinal já se foram 20 anos desde que foi fabricado. O dono do carro chegou por indicação, após ter passado por outras duas oficinas, que trocaram peças mas não resolveram 100% o defeito do veículo.
O cliente relatou que do nada, enquanto trafegava, o motor apagava e não ligava mais. Parecia coisa do outro mundo. Na primeira vez que foi para a oficina, trocaram o sensor de rotação. Devolveram o carro funcionando, mas depois de alguns dias, o problema voltou.
Foi para uma segunda oficina, onde substituíram o relê principal do sistema de injeção e o sensor MAF, que mede o fluxo de ar que vai para o motor. Desta vez, o ‘conserto’ durou um pouco mais, cerca de um mês, até que o problema voltou e o carro morreu novamente, em pleno trânsito.
Fui o terceiro e último a mexer no carro. Ao me contar o defeito, já tinha uma suspeita do que poderia ser, pois há vários anos resolvi dezenas de problemas similares, em veículos fabricados na mesma época. Um que apresenta este tipo de problema com frequência era o Volkswagen Gol GTi. E minha suspeita foi confirmada. Era solda fria.
Todos sensores e atuadores eletrônicos do carro são ligados a central eletrônica de injeção (ECU) por meio de fios, o chicote do sistema de injeção. Na ponta deles há um conector, que é ligado no conector da ECU. O conector da ECU é soldado à placa do circuito eletrônico e a isso chamamos de solda fria do módulo.
Ocorre que em determinadas situações, quando o motor do carro aquece, alguns pinos da solda do conector do módulo ficam isolados, interrompendo a comunicação com os sensores, o que consequentemente faz o carro parar.
Assim que o motor esfria, volta a fazer contato e tudo funciona novamente. Quando trocaram o relê principal do sistema de injeção, provavelmente mexeram no conector do módulo, pois um fica ao lado do outro, e isso fez com que os pinos ficassem um pouco mais bem posicionados e melhorou, temporariamente, o contato. Mas, com o tempo, com o aquecimento e resfriamento do cofre do motor, o problema voltou.
A solução foi reforçar a solda destes pinos, para não mais perderem contato. Esta foi a solução que realizei no passado, em veículos similares, e sempre funcionou. Por isso, é preciso sempre estar antenado às novidades, e atento ao que já foi feito anteriormente.
Editor da Revista Farol Alto