O Renault Sandero RS é um desses veículos que faz muito mais sentido em uma pista de corrida do que nas ruas. Sob este ponto de vista, tem muito mais qualidades do que defeitos, porém quando se inverte o foco, fica difícil entender por que um ser humano normal escolheria esta versão à tradicional, ou ainda ao aventureiro, com suspensão mais alta que absorve bem melhor as irregularidades do piso.
Vamos por partes. O motor, que a alguns anos seria do tamanho ideal para o porte do veículo, nos dias de hoje é uma afronta aos ridículos limites de velocidades de grandes centros urbanos como São Paulo. Trata-se de um quatro-cilindros de dois litros que desenvolve até 150 cv de potência e 20,9 kgfm de torque máximo instalado em um carro de pouco mais de quatro metros de comprimento e 1.161 kg de peso. Com isso, o Sandero RS atinge 202 km/h de velocidade máxima e vai de 0 a 100 km/h em 8 segundos, segundo a montadora.
A suspensão conta com barras estabilizadoras frontais 17% mais rígidas e eixo traseiro 65% mais rígido em comparação com o Sandero normal. Novas molas são 92% mais firmes na frente e 10% atrás, e o ângulo de inclinação da carroceria foi reduzido em um terço, atingindo 3.8°/g, comparado aos 5.6°/g do Sandero normal. Foi feito para correr e fazer curvas mais rápido do que as demais versões do modelo.
Andar na rua com o Sandero RS é, portanto, um desafio à lógica. Assim, o local mais interessante para uma boa avaliação foi pegar a estrada. E então, após vários quilômetros rodados e realizar diversos testes de aceleração e retomadas, em que o carro se saiu muito bem, por sinal, a triste constatação de que o câmbio manual de seis velocidades é curto demais para circuitos rodoviários.
As seis marchas são bem curtas. A 120 km/h em sexta o contagiros está a mais de 3.500 rpm. Na pista, isso é muito bom, pois está próximo à rotação de torque máximo, e na maioria das pistas, um carro como esse não ultrapassa os 180 km/h nas retas. Mas na estrada a conversa é outra. A sexta marcha poderia ser um overdrive, com relação mais longa, para privilegiar a economia, e também o conforto.
Vale lembrar que o Sandero RS conta com escapamento esportivo, com ronco mais forte, prazeroso de ouvir até certo ponto. Em uma viagem de mais de três horas, fica incômodo aos ouvidos de seres humanos normais.
Porém, não se trata de um carro para pessoas normais. É para quem gosta de dirigir, e sente prazer nisso. Deu dó devolver.
Ficha técnica
Renault Sandero RS
Motor: dianteiro, flex, quatro cilindros, 1.998cm³, 150/145cv a 5.750rpm (e/g), 20,9/20,2Kgfm a 4.000rpm (e/g); diâmetro x curso: 82,7 x 93mm; taxa de compressão: 11,2:1
Câmbio: manual de seis velocidades
Tração: dianteira
Direção: assistência hidráulica
Suspensão: independente tipo MacPherson na dianteira e semi-independentes na traseira, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos
Freios: dianteiros a disco ventilados 280x24mm e sólidos de 240mm na traseira, com ABS
Rodas e pneus: liga leve, 195/55 R16 (opcional 205/45 R17)
Dimensões: comprimento, 4.068mm; largura, 1.733mm; altura, 1.499mm; entre-eixos, 2.590mm, peso, 1.161kg, porta-malas, 320l; tanque de combustível, 50l
Desempenho: velocidade máxima, 202/200km/h (e/g); aceleração 0 a 100 km/h: 8,0/8,4s (e/g)
Consumo PBEV – INMETRO: n/d
Editor da Revista Farol Alto