Manutenção em tempos de crise

Carro é sinônimo de despesa. Ainda assim, é um bem indispensável para muitas pessoas. Isso gera um dilema: como fazer para gastar pouco com o automóvel?

Este é o trabalho de alguns profissionais modernos, responsáveis por imensas frotas em companhias de transporte de cargas e passageiros. São pagos para gerenciar o bom funcionamento dos veículos, uma vez que carro parado é prejuízo. Assim, manter a frota sempre circulando é fundamental.

Estes profissionais descobriram que a forma mais simples e barata de atingir este objetivo é por meio da manutenção preventiva, que além de tudo é a mais racional uma vez que é possível programar a parada para executar os serviços necessários e avaliar o veículo como um todo, na busca de sinais de desgastes prematuros que podem levar a uma falha ou quebra inesperada. “Isso vale para qualquer tamanho de frota, seja de 100, 1000 ou até mesmo um único carro”, afirma Claudio Cobeio, proprietário da oficina Cobeio Car e consultor automotivo da Revista Farol Alto-100% Motor.

Segundo Cobeio, muitos motoristas e donos de veículos subutilizam os serviços prestados pelas oficinas, uma vez que só aparecem quando o carro quebra ou dá algum sinal de que não está funcionando corretamente. “O mecânico de confiança pode e deve exercer o trabalho do profissional de frota, que avalia e programa as manutenções para cada cliente, de forma personalizada, de acordo com as características de uso do veículo individuais”, afirma.

Sem confiança para trocar por um zero km, consumidor recorre à revisão do usado com cautela, para não gastar muito. A boa notícia é que existe como manter o carro sempre em ordem e com custo acessível

Esta é uma visão compartilhada pelos dez consultores automotivos da Revista Farol Alto-100% Motor assim como pelo editor técnico, José Carlos Finardi, que durante mais de 20 anos foi piloto de testes da Volkswagen e proprietário de oficina mecânica. “Hoje, quem tem um carro precisa de um plano de manutenção programada, para evitar surpresas desagradáveis, principalmente em um momento de dificuldade econômica como a que vivemos agora”, afirma Finardi.

Benefícios
A manutenção preventiva carrega uma série de benefícios ao motorista, meio ambiente e sociedade, tanto que deveria ser obrigatória tal como ocorre em países como México, Chile, Áustria, Dinamarca, França, Grécia, Itália, Espanha, Inglaterra, Noruega, Suíça, Bélgica, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Luxemburgo, Portugal, Islândia, Polônia, Coréia do Sul, Japão e Estados Unidos (parcialmente).

Um plano de manutenção
programada evita
surpresas desagradáveis

Para o motorista, é a forma mais econômica de manter o veículo sempre em ordem. Sérgio Torigoe, proprietário do Centro de Diagnóstico Automotivo Torigoe e consultor automotivo da Revista Farol Alto-100% Motor, explica que isso acontece pois os diversos componentes que formam o automóvel estão interconectados e, se um falha, pode atrapalhar o bom funcionamento do outro.

“Um caso clássico é a correia dentada, que faz o sincronismo das válvulas de admissão e exaustão do motor”, comenta Torigoe. “Como na maioria das vezes é de borracha, se desgasta com o uso e deve ser verificada a cada 10.000km e trocada de acordo com o preconizado pelo manual do proprietário ou se houver sinais de desgaste prematuro, pois se ela romper com o carro em funcionamento, pode danificar diversos componentes internos do motor, como válvulas e pistões”, explica. “Neste caso, um serviço de troca de correia e kit de tensionadores, que em média custa R$ 400 (dependendo do modelo pode ser mais caro ou menos), pode dar um prejuízo de mais de R$ 4.000”, comenta.

Além disso, a manutenção preventiva ajuda a evitar multas. “Ao fazer a verificação periódica do estado do veículo, é possível detectar problemas como lâmpadas queimadas (faróis, lanternas dianteira e traseira, luzes de piscas, freios e placa) que são itens de segurança e devem estar sempre em ordem, sob risco de ser multado”, explica Francisco Carlos de Oliveira, proprietário da oficina Stilo Motores e consultor automotivo da Revista Farol Alto.

Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, conduzir o veículo com defeito no sistema de iluminação, de sinalização ou com lâmpadas queimadas é uma infração média (artigo 230, item XXII). Isso representa multa de R$ 85,13, mais quatro pontos na carteira de habilitação. “Vale ressaltar, que o Código ainda prevê como infração grave, conduzir o veículo em mau estado de conservação, comprometendo a segurança, ou reprovado na avaliação de inspeção de segurança e de emissão de poluentes e ruído (artigo 230, item XVIII)”, afirma Oliveira. Neste caso, a penalidade é de multa de R$ 127,69, anotação de 5 pontos na carteira de habilitação e retenção do veículo para regularização.

A manutenção preventiva
ajuda a evitar multas 
médias e graves

Meio ambiente
Manter o carro com a manutenção em dia também faz bem para o meio ambiente. “Carro com o motor sempre em ordem polui menos”, afirma Julio de Souza, proprietário da oficina Souza Car e consultor automotivo da Revista Farol Alto-100% Motor. Este foi, inclusive, o argumento utilizado pela prefeitura municipal de São Paulo, em 2008, ao instituir o programa de Inspeção Veicular Ambiental na cidade, que durou até 2013, com a troca de administração.

Em 2008, somente os veículos à diesel foram inspecionados. Já em 2009, somaram-se os automóveis de passeio e motocicletas fabricadas entre 2003 e 2008 e, a partir de 2010, todos os carros, motos, ônibus e caminhões com placa da cidade de São Paulo. De acordo com relatório da Controlar, empresa contratada pela prefeitura para realizar as inspeções, a inspeção dos veículos diesel proporcionou no ano de 2012 economia de US$ 74 milhões no sistema de saúde ao evitar a morte de 559 pessoas.

Os dados da Controlar indicam que em cinco anos de Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em uso no município de São Paulo I/M -SP houve reduções das emissões de gás carbono (CO), hidrocarbonetos (HC) e material particulado (MP) na ordem de 47,5% de CO e 35,6% de HC nos automóveis, 43,9% de CO e 50,8% de HC nos veículos utilitários, 34,6% de CO e 39,2% de HC nas motocicletas e 20,1% de MP nos veículos diesel.

A inspeção de veículo
diesel evitou a morte de
559 pessoas em 2012

Segundo estudo conjunto dos Departamentos de Transporte das Escolas de Engenharia das Universidades de São Carlos (SP) e Universidade de Lund (Suécia), a inspeção veicular periódica obrigatória na Europa reduzido a emissão total de CO em 20% e a de HC em 10%. Lá, no Velho Continente, porém, é realizado também a inspeção técnica veicular (ITV), que avalia itens de segurança além das emissões.

Sociedade
O ganho ambiental da manutenção preventiva automotiva é também um ganho social, uma vez que a sociedade se beneficia ao respirar ar menos poluído. Outro benefício é em segurança, no sentido de minimizar riscos de acidentes de trânsito e consequentemente reduzir as chances de ferimentos e morte.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), acidentes no trânsito matam cerca de 1,25 milhão de pessoas por ano, sendo que 90% estão em países de renda média e baixa. Além disso, esta é a principal causa de morte entre os jovens com idades entre 15 e 29 anos e de quase metade de todos os óbitos de pedestres, ciclistas e motociclistas nas estradas. No Brasil, as mortes no trânsito chegam a mais de 43 mil por ano, número preocupante que cresceu quase 2% no comparativo entre 2014 e 2013, segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária, com base no DataSUS.

“Nada adianta um veículo
com tecnologia sem
manutenção apropriada”,
Daniel Angelo, da Bosch

As imprudências dos condutores, como alta velocidade, desrespeito às leis de trânsito e embriaguez são fatores relacionados aos acidentes em estradas, avenidas e ruas, mas não são os únicos. A falta de manutenção preventiva nos veículos também é um ponto que contribui com o cenário negativo da segurança no trânsito.

“Nada adianta ter um veículo com tecnologia, conectividade e itens de segurança, como ABS e controle eletrônico de estabilidade, se a manutenção não estiver apropriada, ou seja, pastilhas gastas, pneus fora das especificações, níveis de fluidos abaixo do mínimo, além de outros itens que podem ocasionar pane no automóvel e, consequentemente, acidentes. Por isso, é tão importante visitar oficinas mecânicas para fazer um check-up com o objetivo de manter o veículo em pleno funcionamento”, explica Daniel Angelo, gerente de Conceito de Oficinas da divisão Automotive Aftermarket da Robert Bosch.

O executivo destaca ainda que realizar a manutenção preventiva é usualmente mais econômica quando comparada à corretiva, que ocorre apenas quando os problemas já estão aparentes. Outro fator que compromete diretamente este custo é o fato de que um componente danificado prejudicar outros sistemas do veículo. “A manutenção preventiva é sempre a melhor opção”, completa Angelo.

Segundo o estudo de universidades brasileira e sueca, estima-se que na Europa a inspeção veicular periódica obrigatória tenha evitado entre 63 mil a 127 mil acidentes sem vítimas por ano, assim como evitado entre 19 mil a 36 mil acidentes com vítimas por ano. Outro dado interessante é que a inspeção trouxe também informações para compradores de carros usados.

Estudo indica que a inspeção
veicular periódica evita até
163 mil acidentes na Europa

“É fato que manter o carro sempre em ordem reduz as chances de acidentes. Porém o brasileiro ainda tem a mania de achar que esse tipo de situação só acontece com os outros, e posterga as manutenções até que é tarde demais”, afirma Adilson Abacchioni, proprietário da Auto Astral Mecânica e consultor automotivo da Revista Farol Alto-100% Motor.

Como fazer
As desculpas para não fazer a manutenção preventiva são muitas. As principais são falta de tempo e desconhecimento. Esta última é a mais esfarrapada de todas, uma vez que basta folhear o Manual do Proprietário, que vem junto com o carro, para se informar. Normalmente, o manual explica quais itens devem ser verificados assim como os prazos das revisões.

Outra é que vai vender o carro, e por isso não vale a pena gastar nele. Esta é uma desculpa no mínimo irresponsável, pois deixa ao comprador o ônus da manutenção. “Por isso sempre recomendo aos meus clientes trazer o carro para eu fazer uma avaliação antes de fechar negócio”, afirma Claudio Cobeio, da CobeioCar, ao comentar que o valor de revenda do veículo diminui consideravelmente de acordo com a quantidade de problemas que encontra. “Já aconteceu de desistirem do negócio por causa disso”, afirma.

Vender o carro é desculpa
para deixar de fazer a
manutenção preventiva

E isso vale para o comércio entre pessoas físicas, lojistas e pessoas físicas. “Recentemente uma cliente trocou o Ford Ecosport por um Chevrolet Captiva e me trouxe o carro para avaliar. O Captiva chegou com luz injeção acesa, barulho, faróis de xênon que não funcionavam, rolamento de roda ruim, e além disso, o odômetro marcava 68.000, mas era milhas e não km. Recomendei  desfazer o negócio, pois só para consertar gastaria mais de R$ 20.000. A loja não aceitou e disse que bancava os consertos. Devem estar arrependidos até agora, pois já gastaram muito mais do que isso e o carro ainda não está 100%”, comenta Cobeio.

Plano de manutenção
O correto quando se possui um veículo é fazer um plano de manutenção programado. As montadoras indicam, no manual do proprietário, quantas revisões devem ser realizadas ao longo da vida útil do veículo, normalmente a cada 10.000km ou 12 meses, para situações normais de utilização, e 5.000km ou 6 meses para situações severas.

“A forma mais correta de fazer é traçando um perfil individual de utilização do veículo, conforme o tipo de trânsito que o carro enfrenta, quilometragem diária percorrida e estilo de condução”, afirma Cobeio. “Por isso criamos o Cobeio Car Care, um plano de manutenção veicular que leva todos esses aspectos em consideração, além de um check-up inicial com mais de 100 itens do veículo”, diz Cobeio ao explicar que o Cobeio Car Care é uma forma mais barata de manter o veículo sempre em ordem, pois com uma pequena mensalidade fica isento do pagamento de mão de obra para qualquer tipo de reparo mecânico, quantas vezes forem necessárias durante o período contratado.

“Temos planos de um ano ou mais, individual ou familiar, com valores a partir de R$ 100 por mês, dependendo do veículo”, afirma Cobeio ao explicar que cada modelo de automóvel apresenta complexidade diferente de reparo, tanto da parte técnica quanto mercadológica (disponibilidade de peças de reposição).

Um plano de manutenção
por assinatura pode ser
solução para pagar pouco

Outra vantagem da contratação do plano Cobeio Car Care, segundo o reparador, é que caso seja necessária a aplicação de peças de reposição ou serviços de terceiros (vidraçaria, chaves etc.), cobra-se o valor dos componentes utilizados, com custos reduzidos em até 35% do praticado pelo mercado, dependendo do componente. “O cliente gasta uma pequena mensalidade por mês e nós cuidamos do carro dele sem custo de mão de obra. Ele só paga as peças aplicadas com um preço até 35% mais barato que das casas de peças”, afirma.

Check-list
Outra forma de montar um plano de manutenção é por meio de um check-list. Marcos de Castro, proprietário da oficina Mecânica de Castro e consultor da Revista Farol Alto-100% Motor, implementou o check-list na lista de serviços oferecidos aos clientes, que ao deixar o carro para fazer qualquer tipo de manutenção, pode optar pela realização da vistoria.

“Trata-se de um serviço pago, e entregamos para o cliente um raio-x da atual situação do carro dele, desde as condições dos pneus até o estado do motor”, afirma Castro ao comentar que na entrega do veículo, é explicado todos os itens encontrados e caso haja interesse, o dono do veículo pode pré-agendar as manutenções de acordo com as possibilidades, e assim deixar o carro 100% em ordem sem apertar o orçamento.

“Diversos clientes nos agradecem por este serviço, pois assim ficam mais tranquilos em relação ao veículo. Hoje deixamos de ser somente reparadores e viramos provedores de soluções em manutenção automotiva”, diz Castro.

Alexandre Akashi

Editor da Revista Farol Alto alexandre@farolalto.com.br

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