Salão do Automóvel de São Paulo luta para se reinventar

Até o momento, 14 fabricantes de automóveis desistiram de participar do Salão do Automóvel de São Paulo, que acontece de 12 a 22 de novembro no  São Paulo Expo. Isto está obrigando a empresa organizadora do evento, a Reed Exhibitions Alcantara Machado, a rever toda a estratégia e encontrar meios de atrair o público. Entre as novidades, estão a ampliação da área de teste-drive e a adoção do QR Code no ingresso do visitante.

Prestes a completar 60 anos, o Salão luta para sobreviver não só à crise econômica que o país atravessa, como também às estratégias das montadoras. Os fabricantes acordaram que promover ações visando o possível comprador é mais eficaz do que investir milhões de um evento que acontece a cada dois anos.

Essa possível economia deixa de lado mais de 700 mil pessoas que visitam o Salão. Elas esperam ansiosamente o evento para verem de perto os lançamentos, os “carros dos sonhos”, e buscarem uma motivação a mais para comprarem o novo carro.

Entre as saídas encontradas pela Reed Exhibitions estão buscar o apoio dos fabricantes que confirmaram presença para convencerem suas parcerias a reverem a posição, e investir em novas atrações para atrair o público: “Realizaremos investimentos sem precedentes para garantir que as marcas tenham cada vez mais retorno. Temos trabalhando em novos conceitos, projetos e ações que permitam aos expositores participarem dentro de formatos mais adequados às suas estratégias, prestigiando assim os seus fãs atuais e os próximos compradores” explica Leandro Lara, diretor de eventos da Reed.

Um exemplo dessas ações é o aplicativo (QR Code) no ingresso, onde o visitante poderá informar seu interesse em algum veículo para um expositor, ou concorrer a prêmios, e postar sua visita nas redes sociais. Com a novidade, a organizadora tem a expectativa de gerar cerca de 500 mil manifestações, e atrair um número de visitantes próximo ao da última edição, em 2018, que teve 740 mil pessoas.

Valores e reinvenção

A desistência dos fabricantes tem várias explicações, mas a principal são os custos de participar do Salão, que variam entre R$ 3 milhões a R$ 30 milhões. Fator reconhecido pelo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes. “Nosso papel como Anfavea está em como podemos ajudar a tornar esse evento mais economicamente viável; pensar em como reinventar o Salão oferecendo condições mais atrativas, mais baratas e mais eficientes e contribuir na formatação do novo modelo com a redução de custos”, disse.

Moraes não nega que as matrizes têm questionado o investimento no salão brasileiro e o retorno para as marcas. Destacou que outros salões também passam pelo mesmo momento. “Grandes salões como o de Detroit, Frankfurt e Tóquio estão mudando; a transformação global do setor faz com que as empresas repensem seus modelos de negócio e cada país está tentando encontrar o seu melhor modelo”, afirma.

Para o consultor de gestão estratégica Flávio Padovan, a desistência de várias montadoras revela a necessidade do Salão se reinventar, buscar um novo formato. “O Salão precisa ser mais atrativo, acho que precisa se reinventar, trazendo novas propostas. É preciso lembrar que a internet facilitou a integração com o cliente”, explica.

“A desistência de vários fabricantes não é nenhuma novidade. Vários salões internacionais passam pela mesma situação. As montadoras entenderam que promover eventos para clientes e concessionários tem um custo muito menor em comparação ao que se investe em um salão, que varia de R$ 3 milhões a R$ 30 milhões”, diz Padovan.

Com uma longa participação em salões de automóveis, Padovan foi diretor da Volkswagen e CEO da Subaru e da Jaguar Land Rover, e não nega que este tipo de evento tem um custo elevado, o que acaba pesando na hora da decisão de participar. “Ainda não saímos da crise, a situação começa a melhorar, e participar de um salão que é o principal da América do Sul tem um custo elevado”, lembra.

Fora e incertezas

A lista de montadoras que já garantiram que não participam do Salão é formada por BMW, Chevrolet, Hyundai, Mini, Mitsubishi, Suzuki, Toyota Lexus, Peugeot, Citroën, Jaguar, Land Rover, Volvo, Kia. A Mercedes-Benz está avaliando se estará presente ou não.

Duas marcas importantes no país Volkswagen e FCA (Fiat, Chrysler, Jeep, Ram), ainda não bateram o martelo se irão participar do evento.

Antonio Puga

Antonio Puga é jornalista, especializado no setor automotivo

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