Em meio a uma das maiores crises econômicas que já vivi como empresário, tenho acompanhado o noticiário com muita preocupação. De forma equivocada, tem pessoas acreditando que a enorme queda na venda de carros zero Km tem sido boa para nós, empresários do setor de reparação de veículos, proprietários de oficinas mecânicas. “Se o consumidor não troca o carro, tem de consertar o que tem para continuar rodando”, dizem em coro os especialistas no setor.
Esta é uma meia verdade, assim como a que as oficinas estão abarrotadas de serviço. A crise de confiança na economia e no governo é generalizada e afeta a todos. Se o consumidor não confia no dia da amanhã a ponto de encarar uma dívida para trocar de carro, o mesmo vale para o conserto e manutenção do veículo que possui. E a grande verdade é que de um orçamento de cinco ou seis itens que precisam ser feitos para o carro ficar 100% em ordem, apenas dois ou três são aprovados, quando não é feito apenas aquele essencial, que originou a vinda à oficina.
E é isso mesmo: a maioria dos consumidores só traz o carro quando tem algo que o impede de andar ou quando é problema agudo de freio. Manutenção preventiva, que é mais barata e pode ser programada, só uma minoria. Até a troca do óleo motor está sendo prolongada, e isso é um erro grave, principalmente nos carros mais modernos, que contam com tecnologias como comando de válvulas variáveis (VVT).
Assim, o cenário que vivemos hoje é esse. Muitas oficinas, assim como a minha, estão abarrotadas de carros, grande parte deles não funciona e precisa de diversos reparos, assim como a substituição de peças de desgaste natural que já deveriam ser trocadas. Porém, muitos proprietários desses veículos estão desempregados e outra parcela, ainda maior, com medo de não ter emprego na semana seguinte. O resultado é esse então: “Faça só o necessário”, é a frase que mais ouvimos, seguida de uma pergunta famosa: “Esse valor você parcela em quantas vezes?”
Tenho casos na oficina de carros que estão prontos há mais de quatro meses e o dono do veículo ainda não veio buscar. Passei o orçamento, ele aprovou, comprei as peças que precisava, já paguei por elas, e quando ficou pronto ganhei como resposta um “quando puder pagar eu passo ai e pego”. E, provavelmente, quando vier, vai querer parcelar em sei lá quantas vezes.
Editor da Revista Farol Alto