Parece até história de terror. Durante semanas, realizamos diversos testes e reparos em um Mitsubishi Pajero V6 3000, ano/modelo 1997, com 180 mil km rodados. O veículo era o sonho de consumo de um cliente, que depois de anos encontrou o modelo desejado e não quis saber de economia. O importante era o carro funcionar bem.
O estado de conservação do carro até que não era tão ruim para a idade. Poderia estar melhor se o antigo proprietário fosse mais zeloso. Assim, nas duas semanas que o Pajero ficou na oficina, foram trocados diversos componentes de segurança e motor, como amortecedores, freios, correia dentada e de acessórios, bomba d’água, velas, cabos, enfim, tudo que é preciso para rodar bem.
Também foi dada uma recarga de gás no ar-condicionado, substituímos os pneus, fizemos uma bela higienização interna, e inclusive a pintura dos parachoques. Para ter certeza de que estava tudo em ordem, rodamos por diversos percursos urbanos durante duas semanas, e como não apresentou nenhum tipo de defeito, entregamos o veículo ao proprietário.
Mineiro, saiu feliz da vida rumo ao interior de Minas Gerais, porém após rodar quase 400 quilômetros, o carro parou e não pegou mais. Ao observar os instrumentos, descobriu que a temperatura do motor estava no vermelho e, ao abrir a tampa do radiador, nenhuma gota de líquido de arrefecimento. Estava seco.
Abasteceu com água e tentou dar a partida, mas nada. Foi nesse momento que me ligou e informou a situação. Na hora não entendi nada, mas pedi para que verificasse o óleo lubrificante, pela vareta de medição: estava marrom, da cor de café.
Horas depois o carro estava de volta na oficina. Veio de guincho. O motor ferveu, queimou a junta do cabeçote e contaminou o óleo lubrificante. Não adiantava por mais água no radiador. Se tivesse conseguido dar a partida, dificilmente chegaria ao destino final, e provavelmente teria tido um calço hidráulico, e perdido o motor.
Foram mais alguns dias de testes para descobrir o problema. O intrigante é que não havia nenhuma poça de água, nem nada que indicasse vazamentos. E, na cidade, o carro funcionou muito bem durante dias, sem nenhum problema. Como ficou sem líquido de arrefecimento na estrada?
Depois de horas de testes, descobrimos que o problema era em uma abraçadeira da mangueira do aquecedor do coletor, que já não vedava bem a mangueira, e com o aumento da pressão, pingava.
Na cidade, como os trajetos que testamos o carro eram relativamente curtos, não chegou a vazar uma quantidade relevante, mas na estrada, o funcionamento constante durante horas fez com que o líquido diminuísse, causando todo esse problema.
Esta não é a primeira vez que temos problemas com abraçadeiras. Já tivemos outros casos assim no passado, mas são raros pois não há muitos segredos na fabricação dessas peças, que são baratas. Fica a lição e sempre avaliar o estado delas nas revisões gerais.
Editor da Revista Farol Alto