Tecnologia pode reduzir acidentes envolvendo caminhões

Em um país que grande parte do transporte de cargas é realizado em rodovias, os números envolvendo acidentes com caminhões, é extremamente alto e preocupante. Segundo estatística das Polícia Rodoviária Federal (PRF), relativa a 2021, morreram 853 ocupantes de caminhões. Os dados apontam ainda que 2.512 pessoas faleceram em decorrência de acidentes envolvendo esses veículos.

O levantamento da PRF revelou que 5.218 pessoas tiveram ferimentos leves, 1.616 sofreram ferimentos graves e 853 morreram. No total de acidentes envolvendo caminhões, foram 12.628 feridos leves, 4.770 graves 2.521 mortos. Ou seja, 1.668 mortos entre ocupantes de outros veículos, ciclistas, pedestres.

Segundo o Observatório de Dados da Polícia Rodoviária Federal, em 2021, mais de 235 mil infrações de trânsito foram reportadas como condução de veículos em mau estado de conservação, comprometendo a segurança nas vias.

Dados da Brake, instituição beneficente de segurança rodoviária, a cada 24 segundos alguém é morto nas estradas em todo o mundo, totalizando 1,35 milhão de mortes. No Brasil, 5 mil pessoas morreram em 64 mil acidentes de carro, de acordo com o Anuário da Polícia Rodoviária Federal de 2021. Os acidentes de trânsito também representam a oitava maior causa de morte para pessoas de todas as idades e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse fator pode subir para a sétima posição até 2030.

As causas para tantos sinistros passam pelo excesso de jornada de trabalho, uso de drogas, pressão para andar em excesso de velocidade, condições precárias de descanso, valor de frete baixo.

Tecnologia para reduzir acidentes

Hoje existem muitas formas de proteção aos motoristas, ainda que caiba a eles tomar as decisões. E é nesse ponto que a telemática, tecnologia baseada em inteligência artificial se transforma em uma grande aliada das empresas.

Com a ajuda da telemática, é possível ter um acompanhamento completo da frota, identificando possíveis situações de risco nas operações. “Com cerca de 65% do transporte de cargas do Brasil passando por rodovias (segundo o Relatório Executivo do Plano Nacional de Logística 2025), é preciso ter visibilidade sobre as operações e monitorar o panorama dos incidentes nas estradas e seus impactos além delas”, comenta Eduardo Canicoba, vice-presidente da Geotab, empresa mundial em telemática, para o Brasil.

“A telemática é uma tecnologia inovadora para ajudar a resolver esses problemas, pois envia alertas sobre comportamentos de risco dos motoristas, e outros fatores de atenção nas estradas, em tempo real”, completa o executivo.

Ao monitorar dados de eventos adversos (aceleração, frenagem, curvas, etc.), a telemática permite a reconstrução de colisão por meio de algoritmos patenteados e do acelerômetro presente no dispositivo instalado no veículo. Assim, em uma ocorrência, é possível verificar as situações e comportamentos que causaram o acidente, ajudando a identificar os responsáveis e tomar atitudes para que a situação não se repita. 

Com monitoramento dessa e outras ações de precaução, é possível melhorar os comportamentos de condução, orientando o motorista por mensagens de voz em tempo real. O feedback imediato ajuda a aumentar a segurança da frota, reforçar a política da empresa e incentivar os motoristas a tomar medidas corretivas.

A criação de heatmaps (ou mapas de calor), possibilitada por meio da telemática, também ajuda os gestores a identificar visualmente os pontos com mais ocorrências (e probabilidade) de acidentes nas rodovias e aqueles que apresentam maior número de eventos de má condução, auxiliando na criação de medidas preventivas.

Segundo o Automotive Fleet, uma só colisão pode somar uma média de US$ 16 mil a US$ 75 mil de despesas para uma empresa – um gasto altíssimo, somado a tragédias imensuráveis que, com as medidas certas, pode ser evitado.

No entanto, não existe um padrão comum de segurança rodoviária como referência global. Muitas vezes, os gerentes de frota com responsabilidades internacionais se veem desafiados a fornecer um nível mínimo de exigências, que variam de acordo com cada país, o que resulta na criação de políticas de segurança divergentes.

Causas de acidentes

1 – Distração de motoristas é a principal causa dos acidentes de trânsito no Brasil

A condução distraída, que envolve ações simples, como falar ao telefone ou enviar mensagens de texto, comer, ajustar as configurações no painel do veículo ou simplesmente perder o foco na estrada por cansaço, por exemplo, pode ser fatal. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a condução distraída foi a principal causa de colisões no Brasil nos últimos dois anos, resultando em aproximadamente 22.362 acidentes.

De acordo com estimativas, tirar os olhos da estrada por dois segundos aumenta em duas vezes o risco de colisão e, a cada 30 minutos, uma pessoa é ferida em um acidente resultante de condução distraída. Com a ajuda da telemática, é possível monitorar esse comportamento e enviar alertas em tempo real para os gestores de frota e para os motoristas dentro do veículo.

2- O excesso de velocidade está diretamente ligado a maior probabilidade de morte em acidentes

De acordo com a OMS, para cada 1% de aumento de velocidade, há um risco 4% maior de morte e um aumento de 3% na gravidade de um acidente. Isso significa que, se o limite de velocidade for de 100 quilômetros por hora, passar apenas 10 quilômetros acima do limite de velocidade aumenta o risco de um acidente mortal em 40%.

Uma plataforma telemática torna possível estabelecer uma linha base sobre o excesso de velocidade, definir regras e acompanhar o progresso em direção às metas. Além disso, esse gerenciamento pode incentivar a adoção de medidas educativas para os condutores e levar ao reconhecimento daqueles com melhor desempenho na direção.

3 – Caminhões representam mais de 19% dos veículos envolvidos em acidentes

O Painel CNT de Consultas Dinâmicas de Acidentes Rodoviários, apontou que, em 2021, os acidentes que envolveram caminhões resultaram em um total de 20.745 ocorrências de acidentes e mortes, representando 19,46% do total durante o ano.

O monitoramento de todos os aspectos dos veículos e condutores ajuda a estabelecer regras para medir cada parte da política de segurança na direção e ajuda a mitigar o descumprimento do repouso obrigatório, imprudência ao dirigir e condução distraída.

4- Falta de manutenção veicular causa mais 235 mil acidentes ao ano

A falta de manutenção dos veículos também pode aumentar os riscos e até mesmo ser fatal para funcionários e pessoas envolvidas no trânsito, além de causar danos às cargas e prejuízo financeiro às empresas.

Por isso, uma política de manutenção veicular é fator indispensável. Além de identificar problemas antes que eles aconteçam, as ferramentas de telemática ajudam na definição de melhores práticas e no gerenciamento das manutenções por meio da sua ferramenta e da inteligência de análise de dados, que prevê quando os reparos devem ser realizados, gerando mais segurança e economia.

5 – Acidentes de trânsito custarão à economia mundial aproximadamente US$ 1,8 trilhão até 2030

Um estudo publicado pelo The Lancet prevê que acidentes fatais e não fatais custarão ao mundo US$ 1,8 trilhão até 2030. No Brasil, de acordo com a CNT, o custo estimado dos acidentes em 2021 foi de mais de R$ 12,19 bilhões.

6 – O uso de cinto de segurança no trânsito diminui a chance de acidentes fatais em até 75%

Um estudo da Associação Brasileira de Medicina do Transporte (Abramet) mostra que o uso do cinto de segurança nos bancos dianteiros pode reduzir o risco de morte em 45% e nos traseiros em 75%.

Apesar disso, quase 20% das pessoas ainda não o utilizam no banco da frente no Brasil, de acordo com os resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Para os passageiros do banco traseiro, o número é ainda maior: 46% dos entrevistados afirmam não usar o cinto de segurança.

Antonio Puga

Antonio Puga é jornalista, especializado no setor automotivo

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