Inovação no setor de autopeças requer mudanças de paradigmas

Ontem, quarta-feira, 15 de agosto, o Sindipeças realizou em São Paulo interessante evento com o tema inovação, batizado de Inova Day Autopeças. Durante o dia, grandes players do setor e especialistas em inovação debateram o assunto diante de uma plateia repleta de executivos, representantes da indústria nacional de diversos portes. A ideia foi incutir mudanças de paradigmas e abrir as mentes para a necessidade de investimentos que tragam maior competitividade às empresas.

Marcaram o Inova Day Autopeças a explanação de casos de sucesso de empresas internacionais que ao aplicar algumas pequenas mudanças tem obtido resultados expressivos, como a do fabricante de brownies Greyston Bakery, que aplica inovadora política de contratação inclusiva, na qual qualquer pessoa que queira um emprego na empresa recebe a chance de trabalhar, independente do histórico trabalhista, educacional, social etc.. Quando há uma vaga disponível, ela é preenchida pela próxima pessoa da lista. Para entrar na lista, basta bater à porta e pedir um emprego.

O fundador da Greyston Bakery, Bernie Glassman, justifica: “Não contratamos pessoas para fazer brownies, nós fazemos brownies para contratar pessoas”, afirma. Tal filosofia ainda é distante para um setor como o de autopeças brasileiro, mas serve de inspiração. E inspiração é o que o setor mais precisa nos dias atuais, principalmente as pequenas e médias fabricantes de autopeças, as chamadas Tier 2 e 3, que em via de regra são os elos mais fracos da cadeia.

Mercado predatório
As pequenas e médias indústrias de autopeças brasileiras precisam constantemente de ajuda para sobreviver, por conta do mercado predatório imposto por algumas montadoras que insistem em estabelecer os preços de venda dos componentes, muitas vezes com baixíssima margem de lucro. Neste modelo de negócio, o tiro pode sair pela culatra, a médio e longo prazo.

Já não faz muito tempo, a General Motors do Brasil passou um sufoco por conta dessa política. Por anos, quando o dólar estava na faixa de R$ 1,50, a montadora decidiu que era mais barato importar autopeças da Ásia do que comprar localmente. Abandou, assim, os fornecedores locais, e os que ficaram foram obrigados a praticar preços de sobrevivência. Sem lucros substanciosos, os Tier 2 e 3 não conseguem realizar investimentos em equipamentos modernos, que aumentam a competitividade e produtividade, e ficaram ultrapassados.

Com a alta do dólar, as peças que antes eram baratas ficaram caras demais, e a saída era buscar similares no mercado interno. Claro que a GM passou sufoco para encontrar novos fornecedores. “Fomos acionados com urgência, para ajudar a montadora”, conta o conselheiro do Sindipeças, Cláudio Sahad, ao comentar que o ideal é a parceria sustentável, em que a montadora oferece suporte técnico em diversas áreas de conhecimento aos pequenos e médios fornecedores, para que juntos otimizem processos e custos, e ambas cresçam. “Este modelo é normalmente adotado por montadoras orientais, e funciona muito bem”, avalia Sahad.

Assim, quem sabem, o primeiro passo inovador que o setor de autopeças pode dar seja convencer executivos das montadoras de que uma relação comercial mais humana e menos mercadológica resulta positivamente na sociedade, ao contrário do que se faz atualmente.

Alexandre Akashi

Editor da Revista Farol Alto alexandre@farolalto.com.br

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